quinta-feira, 8 de agosto de 2013




É sempre prazeroso ver um grande diretor filmar em locações exteriores. Nada contra o charme artificial dos estúdios – pelo contrário, aqui ele também deixa sua marca – mas é surpreendente o quanto o ar livre engrandece o sentimento do trágico e do sublime – talvez porque o próprio sublime não exista sem a constatação inconsciente dessa fragilidade essencial do homem, seja frente ao destino ou frente a própria natureza. O Ilhéu (The Manxman, 1929), filmado na Ilha de Man, no Reino Unido, tem as duas coisas: trama da necessidade e do acaso, como The Wrong Man, Vertigo, Under Capricorn etc. e trama do homem e da natureza. Na entrevista a Truffaut, Hitchcock diz que o único interesse do projeto é ter sido o seu último filme mudo. Truffaut também o ignora. Se o filme não é uma obra-prima, melhor. Assim é mais intenso o prazer de ver um roteiro medíocre ganhar vida através de cenas tão verdadeiras, sensuais, e ao mesmo tempo, em alguns momentos, tão pouco hitchcockianas. O que só faz crescer a admiração pelo cineasta, e entender que de fato, como acontece com todos os grandes mestres, é muito menos ele que pertence ao cinema do que o cinema que está contido nele. Ou não é possível enxergar nesses planos um pouco de Murnau, Rossellini, Mizoguchi, Straub, Ford, Fassbinder?

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